quinta-feira, 7 de maio de 2009

Acordo Ortográfico

Ultimamente tenho ouvido muitos comentários sobre o Acordo Ortográfico que entrou em vigor esse ano. Enquanto alguns se demonstram bastante contentes com ele — principalmente aqueles que têm problemas na acentuação de algumas palavras e, por alguma razão, odeiam o trema — outros estão extremamente preocupados com essa mudança. Ouvi até mesmo alguns dizerem: “Não sei o que vai ser do português agora com essa mudança total na língua”, “Estou perdida com essa mudança na gramática da Língua Portuguesa”.

No entanto, tranqulizem-se, caros amigos! Longe de constituir uma mudança significativa na gramática da língua portuguesa (lembre-se é só ortográfico), o acordo só alcançará 0,5% das palavras adotadas no Brasil, e este segue uma necessidade política, não linguística (taí uma palavra que perdeu o trema!). Na verdade, o objetivo principal deste acordo é unificar a redação dos documentos oficiais que circulam entre os oito países-membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). São eles: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.

O Português falado no Brasil é consideravelmente diferente do português falado pelos outros países que falam português no mundo. No entanto, esta diferença se concentra principalmente em outros fatores que não são a ortografia. São eles: a prosódia (trata dos atributos da fala), a fonética (estudo dos sons distintivos da língua), a morfologia (estudo da forma das palavras) e, sem dúvida, a sintaxe (relação entre os elementos na sentença). São nesses campos que residem os principais fatores diferenciadores da língua usada nos países que compõem a CPLP. Para se ter uma ideia (lá se foi um acento), ouça uma música cantada em qualquer um dos outros sete países e tente transcrevê-la, meus amigos, vocês ficarão perdidinhos! Dessa forma, modificar a ortografia não minimizará consideravelmente as mudanças linguísticas entre os países da CPLP, sobretudo, entre Brasil e Portugal. Assim, repito: não é uma mudança gramatical, é meramente ortográfica.

Então, vocês devem estar se perguntando: valeu mesmo a pena aceitar o tal acordo ortográfico? Com certeza! Como havia dito, esse acordo segue uma necessidade política. Como assim? O Brasil é muito superior a Portugal e aos outros países lusófonos (que falam português) nas questões linguísticas. Para entender essa questão, vejam o que Marcos Bagno diz em seu livro Preconceito Linguístico:


Nosso país é 92 vezes maior que Portugal, e nossa população é 15 vezes superior! Quando se trata de língua, temos de levar em conta a quantidade: só na cidade de São Paulo vivem mais falantes de português do que em toda a Europa! Além disso, o papel do Brasil no cenário político-econômico mundial é, de longe, muito mais importante que o de Portugal (1999. p, 51).


No entanto, apesar de tal superioridade, sobretudo linguística, continuamos a seguir normas que são ditadas por Portugal. O fato de existiram duas grafias oficiais dificulta a circulação da produção cultural brasileira nos demais países lusófonos. Devido a isso, faz-se necessário que sejam produzidas duas edições de um mesmo livro, uma seguindo a grafia brasileira e outra a portuguesa. Imaginem os gastos de nossos editores! Assim, o Acordo Ortográfico é um avanço para a tão necessária libertação das amarras que nos ligam a Portugal e continuam a fazer de nós escravos de sua vontade linguística.

Quando às novas regras, fiquem tranquilos! Portugal terá muito mais trabalho do que nós, pois o acordo atingiu 2% dos vocábulos deles!


Para saber mais, acesse:

http://www.museulinguaportuguesa.org.br/museudalinguaportuguesa/ortografia.html

http://www.marcosbagno.com.br/conteudo/arquivos/for_fiorin.htm

http://www.marcosbagno.com.br/conteudo/arquivos/for_novoac.htm



Em breve postagens que explicarão as novas regras do Acordo. Até lá!


Um comentário:

  1. agora instruído sobre maiores detalhes, por tão belamente escrito texto, e munido das informações cabíveis..
    não tenho mais receios quanto a influência do acordo ortográfico em ralação aos menos instruídos na nossa fabulosa língua portuguesa.
    aproveito para parabenizar-te por tão cuidadoso trabalho de utilidade pública.
    abraços

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